Timor
Português
A porção
ocidental da ilha de Timor, com capital em Kupang, pertence hoje à República da
Indonésia. A porção oriental, com capital em Díli, pertencia a Portugal desde o
século XVI. Quando os primeiros mercadores e missionários portugueses aportaram
na ilha de Timor em 1515, encontraram populações organizadas em pequenos
estados, reunidos em duas confederações: Servião e Belos, que praticavam
religiões animistas.
No 3º
quartel do século XVI chegaram a Timor os primeiros frades dominicanos
portugueses, através dos quais se vai desenvolvendo uma progressiva influência
religiosa, ao mesmo tempo que se vai estabelecendo a dominação portuguesa.
Em 1859,
um tratado firmado entre Portugal e Holanda fixa a fronteira entre o Timor
Português (actual Timor-Leste) e o Timor Holandês (Timor Ocidental). Em 1945 a
Indonésia obteve sua independência, passando o Timor Ocidental a fazer parte de
seu território.
Timor na
Segunda Guerra Mundial
Durante a
Segunda Guerra Mundial, as forças Aliadas (australianos e holandeses),
reconhecendo a posição estratégica de Timor, estabeleceram posições no
território tendo-se envolvido em duros confrontos com as forças japonesas.
Algumas dezenas de milhar de Timorenses deram a vida lutando ao lado dos
Aliados. Em 1945, a Administração Portuguesa foi restaurada em Timor-Leste.
Direito à
Autodeterminação
Entre
1945 e Junho de 1974, o governo indonésio, em obediência ao Direito
Internacional, afirma na ONU e fora dela que não tinha quaisquer reivindicações
territoriais sobre Timor Oriental (Leste). Ao abrigo da resolução 1514 (XV) de
14 de Dezembro de 1960, Timor-Leste foi considerado pelas Nações Unidas como um
Território Não-Autónomo, sob administração portuguesa.
Desde
1962 até 1973, a Assembleia Geral da ONU aprovou sucessivas resoluções,
afirmando o direito à autodeterminação do Timor-Leste, tal como das restantes
colónias portuguesas de então. Em Portugal o regime de Salazar (e, depois, de
Marcelo Caetano), recusou-se a reconhecer esse direito, afirmando que Timor
Oriental era uma província tão portuguesa como qualquer outra de Portugal
Continental.
Descolonização
de Timor
A
Revolução de 25 de Abril de 1974, que restaurou a democracia em Portugal,
consagrou o respeito pelo direito à autodeterminação das colónias portuguesas.
Visando promover o exercício desse direito, foi criada em Díli a 13 de Maio daquele
ano a Comissão para a Autodeterminação de Timor.
Em 1975,
com a dissolução do império colonial português, aumentaram os movimentos de
libertação locais. Desde Janeiro de 1975, já estava em marcha um programa local
de progressiva descolonização, através de uma Reforma Administrativa, a qual
levou à realização de eleições para a administração regional do Conselho de
Lautém.
Muito
antes dessas eleições regionais era claro, para qualquer observador
independente que visitasse o território, que a esmagadora maioria dos
Timorenses recusava totalmente a integração na Indonésia. As diferenças
culturais eram uma das principais razões de fundo desta recusa.
Proclamação
da Independência e Invasão da Indonésia
Em 28 de
Novembro de 1975 dá-se a Proclamação unilateral da Independência de
Timor-Leste.A 28 de Novembro de 1975, após uma breve guerra civil, a República
Democrática de Timor-Leste foi proclamada. Apenas uns dias depois, a 7 de
Dezembro de 1975, a nova nação lolfoi invadida pela Indonésia que a ocupou durante
os 24 anos seguintes. Timor mergulhou na violência fratricida e o governador,
destituído de orientações precisas de Lisboa e sem forças militares suficientes
para repor a autoridade portuguesa, abandonou a capital e refugiou-se na ilha
de Ataúro.
A
Indonésia justificou a invasão alegando a defesa contra o comunismo, discurso
que lhe garantiu as simpatias do governo dos EUA e da Austrália, entre outros,
mas que não impediu a sua condenação pela Comunidade Internacional.
À invasão
indonésia seguiu-se uma das maiores tragédias do pós II Guerra Mundial. A
Indonésia recorreu a todos os meios para dominar a resistência: calculam-se em
duzentas mil as vítimas de combates e chacinas; as forças policiais e militares
usavam sistemática e incontroladamente meios brutais de tortura, a população
rural, nas áreas de mais acesa disputa com a guerrilha, era encerrada em
“aldeias de recolonização” e procedeu-se à esterilização forçada de mulheres
timorenses.
No
terreno, a guerrilha não se rendeu, embora com escassos recursos materiais,
humanos e financeiros e apesar de ter sofrido pesados desaires, como a deserção
de dirigentes e a perda de outros, pela morte em combate de Nicolau Lobato ou
por detenção de Xanana Gusmão. Embora reduzida a umas escassas centenas de homens
mal armados e isolados do mundo, conseguiu, nos tempos mais recentes, alargar a
sua luta ao meio urbano com manifestações de massas e manter no exterior uma
permanente luta diplomática, para o que contou, em muitas circunstâncias, com a
compreensão e o apoio da Igreja Católica local, liderada por D. Carlos Ximenes
Belo, bispo de Díli”.
Consulta
Popular - Sim à Independência
Em 1996
José Ramos-Horta e o bispo de Díli, D. Ximenes Belo receberam o Nobel da Paz
pela defesa dos direitos humanos e da independência de Timor-Leste. Em 1998,
com a queda de Suharto, após o fim do “milagre económico indonésio”,
B.J.Habibie assumiu a presidência desse país, tendo acabado por concordar com a
realização de um referendo onde a população votaria “sim” se quisesse a integração
na Indonésia com autonomia, e “não” se preferisse a independência. O referendo
foi realizado em 30/08/1999 e, com mais de 90% de participação no referendo e
78,5% de votos, o Povo Timorense rejeitou a autonomia proposta pela Indonésia,
escolhendo, assim, a independência formal.
Solidariedade
Internacional
As
imagens despertaram protestos em vários países do mundo junto às embaixadas da
Indonésia, norte-americanas e britânicas, e também junto às Nações Unidas,
exigindo a rápida intervenção para cessar os assassinatos. Em Portugal nunca se
viram tantas manifestações populares de norte a sul do país desde o 25 de Abril
de 1974. Pela primeira vez também a Internet foi utilizada em massa na
divulgação de campanhas pró Timor e a favor da rápida intervenção da ONU.
Intervenção
das Nações Unidas
Finalmente
a 18 de Setembro de 1999 partiu um contingente de “capacetes azuis” das Nações
Unidas, uma força militar internacional composta inicialmente de 2500 homens,
depois aumentados para 8 mil, incluindo australianos, britânicos, franceses,
italianos, malaios, norte-americanos, canadianos e outros, além de brasileiros
e argentinos. A missão da força de paz, chefiada pelo brasileiro Sérgio Vieira
de Mello, era a de desarmar os milicianos e auxiliar no processo de transição e
na reconstrução do país.
Restauração da Independência
Em Portugal e em vários outros países
organizaram-se campanhas para arrecadar donativos, víveres e livros. Aos poucos
a situação foi sendo controlada, com o progressivo desarmamento das milícias e
o início da reconstrução de moradias, escolas e do resto da infra-estrutura.
Foram realizadas eleições para a Assembleia Constituinte que elaborou a actual
Constituição de Timor-Leste, que passou a vigorar no dia 20 de Maio de 2002,
quando foi devolvida a soberania ao país passando este dia a ser assinalado
como Dia da Restauração da Independência.
Cultura
O líder
da resistência timorense, José Alexandre Gusmão, mais conhecido como Xanana
Gusmão, é também o maior nome da poesia do país. Em 1973, antes mesmo da
Revolução dos Cravos, Xanana Gusmão já se destacava na literatura, chegando a
receber o Prémio Revelação da Poesia Ultramarina. Contudo, foi a Guerra Civil
Timorense, iniciada em 1975, que despertou em Gusmão a necessidade de
expressar-se através da escrita. Entre 1977 e 1979, ele publicou dois livros:
“Pátria e Revolução” (cujo título tornar-se-ia o lema da luta no país), e
“Guerra, Temática Fundamental do Nosso Tempo”, no qual ensaia todas as
características das chamadas Guerras Populares, descrevendo o papel de um líder
carismático na condução de seu povo.
O livro
“Mar Meu”, de 1998, reuniu vários poemas de Xanana escritos no período de 1994
e 1996. Os seus poemas conquistaram a crítica literária em língua portuguesa,
sendo que a obra do revolucionário foi bastante difundida em países como
Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal. O poema “Pátria” tornou-se um
verdadeiro hino da causa timorense.
Xanana
Gusmão é também um forte expoente da pintura timorense, tendo desenvolvido essa
actividade principalmente enquanto esteve preso. As suas telas retratam
essencialmente as paisagens de Timor, enfocando as suas tradições, o jeito
simples do seu povo, a sua felicidade. A sua pintura mais conhecida é “Aldeia
Típica de Timor”.
Outros
escritores importantes de Timor são: Luís Cardoso, Fernando Sylvan, Jorge
Lauten, Francisco Borja da Costa, Jorge Barros Duarte, João Aparício, Ponte
Pedrinha - pseudónimo de Henrique Borges, Fitun Fuik e Afonso Busa Metan.
Poemas, contos e crónicas de alguns desses autores encontram-se reunidos no
livro “Timor Leste - Este País Quer Ser Livre”, organizado por Sílvio
Sant’Anna, da Editora Martin Claret. Um escritor português que viveu alguns
anos em Timor e que produziu obras de grande qualidade foi Ruy Cinatti, poeta,
antropólogo e botânico.